DEUTERONÔMIO
- UMA REPETIÇÃO DA LEI:
O
COMPROMISSO ENTRE APRENDIZADO E PRÁTICA
RESUMO
Deuteronômio
nos ensina sobre a instrução de vida obediente, para um povo trabalhado pela
exortação repetida na Lei de Deus, dada por Moisés a uma nova geração, os que
nasceram no percurso do Egito à Canaã, a terra do seu suserano. O coração é o
terreno a ser conquistado.
Palavras-chave: Palavra. Suserano. Povo
INTRODUÇÃO
O
assunto deste texto é o livro de Deuteronômio. A proposta é apontar os principais
propósitos dessa obra. Comentar sua autoria e apresentar de forma mesmo que sintética,
o que o escritor sagrado define como o apego à palavra de Deus, o valor do
conceito relacional entre o povo escolhido e sua resposta à lei do seu Senhor.
Como a nação de Israel recebe e redargua aos mandamentos de Deus.
Relacionaremos
também, alguns assuntos que são bastante evidentes em Deuteronômio, que são as
bênçãos relativas à obediência, e as maldições, como consequência das
desobediências. Como entendemos a grande profecia a respeito dos judeus, na
contemporaneidade da igreja, e qual era o objetivo desta narrativa tão marcante
da escritura e bastante ressaltada no Pentateuco.
Que
destaque o livro de Deuteronômio apresenta apontando para o messias? Como
podemos entender redenção a partir de Deuteronômio, e a relação do pentateuco,
com os demais livros da Bíblia. Discutiremos, então, alguns paralelos, mesmo
que de forma concisa, devido à riqueza e a vasta sabedoria apresentada neste
objeto de estudo.
Das
grandes maravilhas da revelação descritas em Deuteronômio, comentaremos brevemente
o final da peregrinação de Israel no deserto. A apresentação que o Senhor faz,
da terra prometida a seu servo Moisés, e o fim da carreira desse homem, cujo
nome é tão valioso e respeitado pelos judeus, e pelos que professam a fé
cristã.
1 AUTORIA MOSAICA
Por
todo Pentateuco Moisés se declara como o autor e no livro de Deuteronômio, não
é diferente. Em diversas passagens do livro, Moisés se apresenta como autor dos
discursos na sua maior parte. Exceto o capítulo 34, que são relatadas as
atividades finais de Moisés, obviamente, ocorre uma breve participação de outro
autor. O qual não é possível identificar, exatamente, porém pela sua
proximidade com Moisés, e sua autoridade sucessória na liderança de Israel,
provavelmente, esta participação no final do livro de Deuteronômio, possa ser
de Josué.
Baseado
em pressuposições conservadoras, é possível estabelecer um argumento muito
forte em prol da autoria mosaica de Deuteronômio. Pelo teste de concordância
com conhecidas condições históricas, e através de uma análise literária
cuidadosa, não é difícil demonstrar que só o período pré-Davídico pode ser
reconciliado com o texto hebraico. Pode ser demonstrado através dum tratamento
justo da evidência: a) que Deuteronômio foi escrito antes do aparecimento dos
profetas que escreviam, no oitavo século a.C.; b) que precede igualmente a
divisão da monarquia hebraica em Israel e Judá em 931 a.C.; c) que acorda
melhor com um período perto da conquista encabeçada por Josué. Um reexame muito
cuidadoso desta evidência foi feito por G. T. Manley durante os últimos anos,
demonstrando, com a lógica mais irresistível que os dados do próprio texto
eliminam a possibilidade duma origem pós-mosaica. (ARCHER, 1991, p. 173)
Além
da autenticidade da autoria de Moisés apresentada no próprio Pentateuco, esta
confirmação é dada em outros livros do antigo e do novo testamento, principalmente
pelas citações de Jesus Cristo, Estêvão e os apóstolos Paulo e Pedro, sobre
esse livro, além de afirmar toda lei como autoria de Moisés, também reconhecem
Moisés como autor do quinto livro, como de todo o pentateuco, a Lei de Moisés.
Tanto a tradição judaica quanto a samaritana são unânimes em declarar que
Deuteronômio é o quinto livro de Moisés. Portanto é totalmente adequado afirmar
que Moisés é o autor de Deuteronômio, o quinto livro da Bíblia.
O
livro começa com o povo de Israel na terra de Moabe, a leste do mar Morto, e às
margens do rio Jordão, num ponto que teriam atingido numa caminhada de onze
dias, mas percorreram por diversas voltas em quarenta anos. Seu trajeto
bastante vagaroso foi um propósito de Deus em preparar um povo devidamente
habilitado para adentrar à terra prometida aos patriarcas Abraão, Isaque e
Jacó. E dos que saíram do Egito, só adentraram em Canaã, Josué e Calebe. Sendo
assim uma nova geração nasceu no deserto, e Moisés tinha a necessidade de
repetir a Lei a essa nova geração, pronta e ansiosa por conquista, e assim
Moisés dá inicio a seus discursos, como se nesse primeiro de três, ele olhasse
para traz.
2 SIGNIFICADO E PRINCIPAIS PROPÓSITOS DE
DEUTERONÔMIO
O
conteúdo de Deuteronômio é identificado com Moisés: “Estas são as palavras que
Moisés falou a todo o Israel” (Dt 1.1). O nome hebraico do livro é: “Estas são
as palavras”, ou ainda mais breve: “Palavras”. A LXX deu ao livro o nome grego
de Deuteronomion (Segunda Lei), por ser a repetição da lei de Êxodo, Levítico e
Números, porém não seria o título mais apropriado, pois o livro não trata de
uma segunda Lei, mas da repetição da Lei proferida em Êxodo e Levítico.
“Cuidarei
de fazerdes” (Dt 5.32), é a palavra de Moisés ao povo, com o propósito de serem
bem sucedidos na prática da obediência à palavra de Deus, e não meramente
ouvintes (Tg 1.22). Deuteronômio, de forma didática apresenta a relação das
bênçãos com a obediência e das maldições com a desobediência, mas com um grande
apelo para que o povo se apegasse e dependesse da palavra. Para aprenderem e
memorizassem todo ensino da Lei dada pelo Senhor, a ponto de passarem com a
mesma força e intensidade à sua descendência, e que fizesse parte da sua
rotina, falando, escrevendo e lendo no caminho, ao deitar-se e ao levantar-se,
estando sempre na sua memória (Dt 6.6-9).
Todas
as realizações sonhadas estavam dependentes da obediência, a própria vida, a
posse da terra, a vitória sobre os inimigos, a prosperidade e a felicidade. O
livro ensina a inflexibilidade da lei: “farás” e “não farás”, aparecem
repedidas vezes, e “a bênção se obedecerdes” e “a maldição se não obedecerdes”.
No
sentido mais amplo da instrução dada em Deuteronômio, o relacionamento do povo
com Deus, seria basicamente como dos vassalos com seu suserano. O vassalo
gerenciaria a terra cedida pelo suserano. O juramento de fé e fidelidade do
vassalo era de tornar-se dependente do seu senhor, com os devidos tributos a
ser-lhe dado: o culto conforme o padrão de adoração e sacrifício de Levítico e
a obediência do Decálogo com todas as suas ramificações éticas. A obediência
nunca deveria ser entendida como uma permuta ou recompensa, mas ao contrário,
deveria ser uma transformação constante do súdito que tributaria amor ao soberano
Senhor. Assim o Deus de Israel propõe a participação do seu povo escolhido, na
fidelidade pelo amor na adoração e obediência.
3 A REPETIÇÃO DA LEI – AS DEZ PALAVRAS
Várias
visões são sustentadas, quanto à distribuição dos Dez Mandamentos. O texto nos
informa que existem dez, mas não os enumera individualmente, pois o sistema de
divisão do texto do Antigo Testamento em versículos não é, obviamente,
original. As Igrejas Católica Ortodoxa Grega e Reformada, consideram o
preâmbulo como estando fora do círculo dos dez. O primeiro mandamento, então,
se aplica à proibição da adoração de outros deuses, o segundo à proibição de
imagens, e assim por diante até o fim, do modo segundo o qual estamos
acostumados. Essa divisão é tão antiga quanto o tempo de Filo e Josefo.
Deuteronômio é um dos maiores livros do Velho
Testamento. Sua influencia na religião pessoal e familiar de todas as épocas
jamais foi superada pela de qualquer outro livro da Bíblia. É citado mais de
oitenta vezes no Novo Testamento e pertence, assim, a um pequeno grupo de
quatro livros veterotestamentários aos quais os cristãos primitivos faziam referencia
frequente. (THOMPSON, 2006, p. 11).
Aqui,
Moisés não está apenas explicando quais são as leis de Deus a uma horda de
escravos, mas com o uso da homilética, com estilo de sermão, Moisés seriamente
exorta uma nação a despertar sua consciência para levar muito a sério a vocação
divina, à uma vida de santidade na dependência de Deus, o seu único Senhor.
No
segundo discurso de Moisés ele está olhando para o alto (Dt 5-26). “São estes
os estatutos e os juízos que cuidareis de cumprir na terra que vos Deu o
Senhor”. Israel estava para entrar numa nova terra, e tudo dependida da sua
constante e inteligente obediência a Deus, que lhe estava dando a terra. Deus
queria ensinar a Israel o amor, que é o real cumprimento da lei (Rm 13.8-10; Mt
22.37-40). Deus diz: “Sois meu povo; eu vos amo e vos tenho escolhido; estou no
vosso meio; vou proteger-vos. Somente peço que me obedeçais para o vosso bem”.
Também diz: “Sede santos, porque eu sou santo”.
No
terceiro discurso de Moisés ele está olhando para frente (Dt 27.33). Moisés se
dirigiu ao povo proferindo algumas solenes advertências. Primeiro falou das
bênçãos que os filhos de Israel desfrutariam pela obediência com o entendimento
do amor a Deus; depois Moisés citou as consequências da desobediência, tudo que
empreendessem em rebeldia, “desobediência”, lhes seriam maldição, “em tudo” (Dt
28.15 até o final do capítulo).
Deuteronômio nos apresenta Jesus
Cristo, como nosso verdadeiro profeta. E como preparação do povo para a
entrarem e tomarem posse, da terra prometida, a graça majestosa, era que esse
povo servisse a Deus em total obediência, com toda sua força, com todo seu
entendimento, com todo seu coração. E é justamente esse, o ponto de contato com
o Cristo de Deus, pois Jesus, em toda sua vida, fez a vontade do Pai. Seu
ministério simples, nunca pareceu algo triunfante, ao contrário, desde seu
humilde nascimento, sua vida e morte, foi fazer a vontade do Deus da Bíblia, o
mesmo Deus que revelou a Moisés os cinco primeiros livros, e trabalhou um povo
de dura servis no deserto, para fazer desse povo corrupto, uma nação santa, o
obediente testemunho da verdade do Senhor de toda terra.
“O Senhor, teu Deus, te suscitará um
profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás [...]
Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja
boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.”
(Dt 18. 15,18)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por
fim, Deuteronômio no capítulo 34, relata a morte de Moisés. Após o cântico e as
palavras finais de bênção, Moisés subiu ao cimo do monte Nebo. Ali Deus o
apresentou à distância toda a terra de Canaã, a que tinha sido combustível da
sua motivação de conduzir o povo por quarenta anos no deserto, e sempre
apontando a submissão a Deus. Moisés subiu ao monte, avistou a terra e nunca
mais voltou. A Escritura relata que ele morreu e o Senhor o sepultou em um
lugar desconhecido.
Israel,
longe de buscar novas verdades para tomar lugar dos seus antigos conceitos,
precisa guardar e obedecer a verdade revelada, que de uma vez para sempre,
recebeu da fonte absoluta e imutável da verdade, portanto a admoestação
fundamental de Deuteronômio: “Lembrai-vos, e não vos esqueçais!” Simplesmente,
porque Canaã será o lugar da prática de todo aprendizado acolhido no deserto.
“Ouve oh Israel, o Senhor nosso Deus, é o único Senhor!”
(Dt 6.4).
“Estas
palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus
filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao
deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão
por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas
portas. (Dt 6.6-9)
“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma e de toda a tua força.” (Dt 6.5)
É realmente um grande tesouro todo ensino que nos traz o
livro de Deuteronômio, como um fundamento para auto disciplina, de como nos
relacionar com Deus em obediência. O que aprendemos da Lei de Deus deve nos dar
a direção ética para todos os relacionamentos. Há uma grande necessidade de
levar Deus a sério. Arrependendo, confessando e deixando o pecado. Fazendo uma
constante varredura no íntimo do coração para que a proposta do ensino bíblico
não saia da nossa memória. E que façamos o máximo esforço para que essa Lei,
além de alcançar o maior número de pessoas através do nosso testemunho cristão,
possa alcançar também toda nossa descendência.
“Lembrai-vos,
e não vos esqueçais!”
REFERÊNCIAS
ARCHER, L. Glearson; Merece Confiança o Antigo Testamento? / Glearson
L. Archer Jr., São Paulo-SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1991.
KAISER, Walter C.; Teologia do Antigo Testamento / Walter
C. Kaiser Jr.; Traduzido por Gordon Chrown, São Paulo-SP: Vida Nova, 2007.
THOMPSON, J. A.;
Deuteronômio Introdução e Comentário / J. A. Thompson; Tradução: Carlos
Osvaldo Pinto – São Paulo-SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2006.
VOS, Geerhardus; Teologia Bíblica / Geerhardus Vos;
Traduzido por Alberto Almeida de Paula, São Paulo – SP, Cultura Cristã, 2010.