Um estudioso da Bíblia entra na cozinha de um amigo
e vê um imã fixando um plano de dieta na porta da geladeira. O plano diz:
“’Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor,
‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes
esperança e um futuro’” (Jr 29.11 NVI). Esse amigo em dieta está interpretando
a Bíblia corretamente? O primeiro princípio da interpretação é “leia
contextualmente”. O estudioso da Bíblia pensa consigo mesmo: “Ele sabe que
Jeremias falava aos líderes de Israel que estavam no exílio na Babilônia? Que
uma palavra falada à nação de Israel não é necessariamente uma promessa pessoal
a cristãos individuais?” O estudioso se preocupa: “Meu amigo pensa que Deus
prometeu prosperá-lo através desse plano de dieta?” Ou o treinamento do
estudioso o deixou louco? “Talvez meu amigo simplesmente queira lembrar que
Deus é por seu povo”, o estudioso pensa, “inclusive por ele mesmo”.
Nós confessamos que a Bíblia é a Palavra de Deus,
mas a menos que a leiamos e a interpretemos apropriadamente, nossa confissão é
uma mera formalidade. Uma exegese bíblica correta é essencial se esperamos
conhecer e agir a partir da verdade bíblica. Uma interpretação correta possui
dois elementos: o técnico e o pessoal. Do lado técnico, devemos ler a Bíblia de
acordo com a gramática e o léxico da época. Não é suficiente saber o que
palavras como carne, aliança, juiz, talento, escravo
ou justificação significam hoje; nós devemos saber o que elas
significavam naquela época. Em segundo lugar, devemos ler o texto em seus
contextos literário e cultural.
A frequente ordenança “saudai uns aos outros com
ósculo santo” (Rm 16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26; 1Pe 5.14) ilustra ambos
os princípios. No ocidente, nós ingenuamente assumimos que esse beijo é algo
para pessoas do primeiro século fazerem, mas não para nós. Mas não podemos
simplesmente desconsiderar uma ordenança; nós devemos investigar. Quando
fazemos isso, descobrimos que o “beijo” se tratava de um toque ritual de
bochechas, não de lábios, e que era sempre de homem para homem ou de mulher
para mulher, não de homem para mulher. Culturalmente, o beijo demonstrava
amizade, afinidade e afeição. Portanto, para obedecer a ordenança em nossa
cultura, nós avaliamos como nós demonstramos lealdade e afeição, e praticamos
isso. A exegese correta descobre que o beijo em si não é a preocupação de
Paulo. Ao invés disso, ele deseja que os crentes demonstrem lealdade e afeição de
forma que possam adequar-se a cada cultura.
Leitores sérios possuem uma pergunta tríplice a
respeito da interpretação bíblica: o que significava o que significa e como
isso se aplica? A pergunta é ainda mais urgente quando discípulos perguntam:
quando eu interpreto uma afirmação literalmente e quando eu a interpreto de
forma figurada? Quando devemos obedecer a uma ordenança literalmente e quando
não devemos? Nós respondemos essas questões estudando uma passagem em seu
contexto cultural.
Por: Daniel Doriani. Extraído do site www.ligonier.org. © 2013
Ligonier Ministries. Original: The Importance of Sound Exegesis